domingo, 22 de agosto de 2010

Anticomputador – Núbia Marques

Chega -te a mim
Foge do desatino eletrônico
Não tenho braços biônicos
Nem sou metralhadora estridente
Nem aço aninha-se em meus dentes
Não tenho asséptico odor de hortelã
Nem absurdo som do opaco níquel
Não sou herói de batalhas inúteis
Nem deserta mulher do desencontro
Não sou o acaso da procura
Nem a definitiva espera do desespero
Vim do abandono das estradas
Do apátrida em rumo universal
Sou lúcido contato sem metálicos botões de comando
Chega-te a mim
Que sou filha da cópula
Tessitura sísmica da beleza
Não sou filha das provetas
Não sou egressa da inseminação artificial
Sou de vísceras e sonhos
Deambulando cismática
cisandino – voador de simbióticas baladas
Chega-te a mim
Não tenho no corpo precisão de máquinas e robôs
Mas repulsa e imune automação
De amor nos cubículos dos motéis pelas estradas
Onde o rumor de veículos
E gemidos de amor
São bip bip de motores
Mentores fluxos da solidão dilacerada
Chega -te a mim
Traze teu hálito de humo e orvalho
Teus cabelos de madrugada
Teu peito nu desarmado
Teus pés pincelados pela poeira dos caminhos
Tua pretensa ilusão desmaiada no éter
Teu descuido silencioso e sensual
Teu quase-medo espanto
Intimidade tranqüila da loucura
Chega-te a mim
E juntos repudiaremos a hora marcada
O encontro marcado
Os homens marcados
As marcas acrílicas do século XX
E, sem a precisão dos relógios
Na densa e baça manhã que nos cerca
Entre brandos arbustos e sonolentas feras
Gestaremos a liberdade
Chega-te a mim...

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